Está sempre em Sete Rios, ali por baixo do parque de estacionamento, é meio alourado, tem olhos claros e um bigode mais ou menos farfalhudo. É magro, de estatura mediana e se não é assim, perdoem-me quando digo que tem sempre vestido ou umas calças claras ou de ganga, camisas aos quadrados, um boné e um colete sem mangas vermelhos, com o logótipo. Aparenta ter 40 e muitos, 50as, mas penso que será mais velho. De manhã, em hora de ponta, está do lado esquerdo, no passeio, aguardando pacificamente, mas atento, que o sinal mude de cor para começar a sua ronda. Logo que fica vermelho, avança, devagar, ergue o braço a meia haste e vai andando, pelo meio das duas filas, exibindo a revista mais de perto quando se aproxima dos condutores. Não fala, não bate nos vidros dos mais desatentos, não é chato nem impositivo; inquire apenas com o olhar. Uns abanam a cabeça, outros, erguem o indicador e abanam o dedo da esquerda para a direita. Imediatamente antes do sinal voltar ao verde e os aceleras avançarem sem olhar para trás, ou para a frente, com pressa, sempre com muita pressa, caminha novamente, devagar, em direcção ao seu posto e aguarda novamente pelo vermelho. Hoje, como de costume no início de cada mês, aguardei a sua marcha lenta, sorri, desci o vidro e estendi os dois euros. Quando voltei a fechar o vidro e o observei a afastar-se, reparei que estava mais velho, um pouco mais curvado e arrastava ligeiramente a perna esquerda. E preocupei-me. A verdade, é que não sei porquê, simpatizo com este meu homem da Cais. E hoje, pela primeira vez, quando o sinal abriu e arranquei, sorriu e acenou-me do passeio.
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2 comentários:
Até se me arrepiou o queração!
Gostei, sim senhora.
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